Resposta. Muito resumidamente, os neurónios hipocretinérgicos integram informação relativa ao ritmo circadiano, o metabolismo energético, o sistema límbico (emocional) e outras muitas variáveis para dar um sinal coordenado a outros sistemas de vigília, proporcionando estabilidade ao ciclo vigília-sono.
R. A optogenética consiste em converter os neurónios sensíveis a um determinado comprimento de onda mediante a introdução de canais de iões que se activam com a luz. Esta tecnologia, que até à data só se pode utilizar em modelos animais, permite a manipulação de neurónios e circuitos neuronais definidos geneticamente com precisão de milissegundos. É uma autêntica revolução, porque permite-nos entender e dissecar a função cerebral a nível de circuitos, algo que não tinha sido possível realizar anteriormente. Nós fomos os primeiros a utilizar as técnicas optogénicas in vivo, e utilizámos precisamente o circuito da hipocretina para demonstrar que a sua estimulação e ratos é suficiente para despertar os animais. Esta e outras experiências optogenéticas estabeleceram uma relação causal entre a actividade do sistema hipocretinérgico e o controlo das transições dos estados de vigília.
R. Esta é uma área onde ainda estamos a desenvolver vários laboratórios. Ainda não entendemos bem qual é a relação entre as hipercretinas e a dopamina ou os circuitos de recompensa. Há muitas evidências que apoiam a ideia de que as hipocretinas activam a dopamina e aumentam o valor de um estímulo positivo. No entanto, a estimulação directa das hipocretinas parece ter um valor negativo, de tal forma que os animais evitam um contexto associado à actividade Hcrt. Também vimos que a estimulação persistente dos neurónios Hcrt desencadeia uma resposta de stress. De uma maneira simplista, poderíamos dizer que a ligação Hcrt e dopamina explicaria o número reduzido de doentes narcolépticos com problemas de abuso de drogas, no entanto está claro que existem muitas ligações que desconhecemos e o problema é muito complexo
R: O futuro é realmente prometedor. Em modelos animais parece que a administração de ligandos Hcrt resgata o fenótipo narcoléptico sem necessidade de regular de forma precisa a sua libertação. Isto quer dizer que seria possível tratar de maneira eficiente a narcolepsia com fármacos. Há pelo menos três moléculas em desenvolvimento na indústria farmacêutica que se ligam selectivamente aos receptores de Hcrt. É difícil fornecer datas, mas confio que dentro de uma década teremos um tratamento farmacológico selectivo para a narcolepsia de tipo I.
Agradecimento. Agradecemos o prof. De Lecea pelas suas respostas: assistiremos à sua conferência em Madrid, dado o interesse que a sua presença entre nós suscita.Dra. Rosa Peraita Adrados