Introdução. A clonagem do FOXP2, o primeiro gene ligado a uma variante hereditária da perturbação específica da linguagem (PEL), permitiu investigar de forma mais precisa na natureza e a trajectória evolutiva das bases moleculares da organização e o funcionamento dos centros neuronais responsáveis pelo processamento linguístico. Desenvolvimento. O gene FOXP2 codifica um inibidor transcricional que parece regular a proliferação e/ou a migração de determinadas populações neuronais dos gânglios da base, o córtex, o cerebelo e o tálamo, participando presumivelmente na organização e/ou funcionamento do sistema fronto-tálamo-estriatal. Por outra lado, a análise da história evolutiva do gene sugere que o factor transcricional FOXP2, apesar de ser bastante antigo, sofreu uma certa alteração da sua estrutura secundária e adquiriu um locus potencial de fosforilação para a proteinoquinase C durante a recente história evolutiva da espécie humana. Conclusões. As evidências discutidas nesta revisão permitem aventurar um papel significativo para FOXP2 no que diz respeito ao desenvolvimento ontogenético e filogenético da linguagem. Por um lado, parecem validar determinados modelos gerais de processamento linguístico que reclamam um papel mais relevante durante este para as estruturas subcorticais (fundamentalmente para os gânglios da base). Por outro, parecem sugerir que as alterações sofridas pelo FOXP2 teriam permitido adicionalmente o recrutamento de determinadas regiões (como a área de Broca) para a linguagem, quer facilitando a emergência da sintaxe ou optimizando o processamento fonológico e/ou a memória do trabalho verbal, quer transferindo para as referidas regiões o controlo da articulação, estabelecendo , em definitiva, as bases para o aparecimento da linguagem falada.
Palabras claveBiologia molecularFilogéneseLinguagemOntogéneseCategoriasNeurociencia básica
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