Objectivo. Rever os principais processos cognitivos regulados pelo cerebelo, assim como os circuitos anatómicos envolvidos com a sua correlação clínica. Desenvolvimento. O cerebelo é considerado, de forma geral, como um regulador das funções motoras com um papel chave na coordenação do movimento. A evidência clínica da relação do cerebelo com funções nervosas consideradas como tipicamente corticais é dada pelas múltiplas alterações neuropsicológicas detectadas, tanto em doenças degenerativas do cerebelo como em lesões agudas do mesmo por eventos vasculares cerebrais, traumatismo e cirurgia. Existem circuitos anatómicos entre o cerebelo com practicamente todas as áreas básicas a nivel cortical e sistema límbico, com a região ventral da ponte como centro de relevo da aferência e eferência de todas estas vias. Estas estruturas filogeneticamente mais antigas do cerebelo como o lóbulo floculonodular, vérmis, núcleos fastigiais e globoso têm uma relação estreita com o controlo de emoções e manifestações autonómicas, enquanto que as áreas mais complexas e evoluidas estão envolvidas na aprendizagem, a planificação motora e a linguagem. Os estudos de imagem funcional ajudaram a corroborar a relação do cerebelo com processos de memória, e encontraram uma activação selectiva das regiões laterais durante a aprendizagem activa. Descreveram-se numerosos síndromes cognitivos relacionados com a lesão cerebelosa, como alterações semelhantes a síndromes frontais, deficiências de memória, afasia e inclusivamente uma possível dismetria do pensamento, com uma descoordenação entre a velocidade dos processos mentais e a sua execução motora. Conclusão. Todos os dados fornecidos por estudos clínicos e funcionais, indicam que o cerebelo tem uma função coordenadora central não só do movimento como também da regulação do pensamento, pelo que o cerebelo deve ser reavaliado como um sistema neuronal complexo muito a par de estruturas corticais mais avançadas
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