Introdução. Os urus-chipayas são um grupo étnico de 2.500 pessoas, descendentes de culturas andinas primitivas. O seu isolamento (vivem a 4.000 metros de altura no sul da Bolívia), a sua língua não escrita (Chipaya-Puquina), a sua forma tradicional de vida, indumentária e costumes, semelhante à conduzida durante milénios, fazem com que esta seja uma cultura insólita. O objectivo do nosso trabalho foi realizar um estudo etnográfico sobre as doenças neurológicas deste povo, a sua concepção sobre as mesmas e os seus protocolos terapêuticos. Desenvolvimento. Estudo etnográfico de campo realizado em Junho de 2004. Realizou-se uma entrevista estruturada com um yatiri, ou curandeiro chipaya, para classificar as doenças neurológicas e mentais. A epilepsia (tukuri) é interpretada como a consequência da entrada de um mau espírito pelo nariz. O seu tratamento consiste em ingerir uma infusão que contém um pó seco de mariposa (jesko), aves ou curupancho. A achamixi (cefaleia) é comum, trata-se lavando a cabeça com urina fermentada de yatiri, bebendo a ingusão da planta chachacoma e através do acto de soprar que o yatiri realiza sobre a cabeça do doente. O susto, cujos sintomas se assemelham à perturbação do stress pós-traumático, trata-se com a wilancha, sacrifício ritual de uma llama, dedicada à Pachamama. A tristeza, equivalente cultural da depressão, trata-se com infusões de ayrampo, uma planta dos altos Andes. Existe também a psicose (sumsu) que se trata com wilancha, e o atraso mental/encefalopatia estática (pustkis), considerados consequência do susto que a mãe tem na gravidez. Não fomos informados sobre a existência de patologia extrapiramidal nem vascular. Conclusões. Os equivalentes culturais de certas patologias neurológicas (cefaleia, epilepsia, atraso mental, ansiedade e depressão) estão presentes nesta cultura ancestral.
Palabras claveAntropologia físicaEtnografiaHistória da neurologiaÍndios americanosCategoriasEpilepsias y síndromes epilépticos
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