Introdução. O cacto de são Pedro contém o alcalóide mescalina e outros derivados da feniletilamina com propriedades alucinógenas. Este cacto foi usado ao longo da história por diversas culturas e civilizações precolombianas que se estabeleceram no norte do Peru. Neste artigo procede-se à revisão dos achados etnoarqueológicos e etnohistóricos sobre o uso ritual do cacto de são Pedro nas culturas precolombianas, e comparam-se estes achados com a informação proporcionada pela etnografia actual. Desenvolvimento. Quanto mais tempo um cacto tenha estado armazenado, mais potente e maior conteúdo em alcalóides derivados da mescalina terá. Encontraram-se dados arqueológicos do uso do são Pedro com propósitos mágico-religiosos nas culturas precolombianas Cupisnique (1500 a. C.), Chavín (1000 a. C.), Moche (100-750 d.C.) e Lambayeque (750-1350 d. C.). Os maestros curandeiros actuais empregam o são Pedro em mesas rituais de cura com a finalidade de tratar o feitiço e o azar. A mesa tem um sofisticado ritual: ‘levantar’ ou respirar tabaco com álcool, ingerir são Pedro, adivinhar as doenças, limpar o mal e ‘florescer’ o doente. A mesa ritual é executada de madrugada, às terças e sextas-feiras, dias sagrados para a religiosidade andina. Por vezes substitui-se o são Pedro por uma infusão de plantas e sementes com componentes alucinógenas, como a ayahuasca e as mishas (Brugmansia sp.). Conclusões. A tradição milenar do uso curativo e alucinógeno do cacto de são Pedro manteve uma continuidade cultural com o curandeirismo andino contemporâneo.
Palabras claveAntropologia médicaCacto de são PedroCurandeirismoEtnografia
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